
Gasolina com mais etanol começa a ser testada no Brasil e pode ter 30% de mistura ainda em 2025
O Brasil iniciou os testes para uma gasolina com maior teor de etanol em sua composição, um passo que pode elevar o percentual do biocombustível para 30% já no próximo ano. As análises estão sendo conduzidas pelo Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), escolhido pelo Ministério de Minas e Energia (MME) como responsável técnico dentro do programa “Combustível do Futuro”.
Entre janeiro e fevereiro, o IMT avalia a viabilidade técnica e ambiental da nova mistura, considerando aspectos como emissões de gases poluentes e impacto nos veículos — desde modelos mais antigos até os mais modernos. A meta é assegurar que a mudança não comprometa o desempenho ou a funcionalidade dos automóveis.
“Estamos empenhados em assegurar que a transição para uma gasolina com maior teor de etanol seja viável e sustentável, atendendo aos rigorosos padrões técnicos e de desempenho exigidos pelo setor automotivo,” afirmou Luana Cristina Xavier Camargos, coordenadora do Núcleo de Certificação e Homologação do IMT.
Os resultados preliminares serão entregues ao MME até o fim do primeiro trimestre de 2025. Eles servirão como base para um estudo de impacto regulatório, etapa necessária antes da adoção oficial da nova composição no mercado.
O impacto da nova gasolina
Atualmente, a gasolina comercializada no Brasil tem entre 18% e 27,5% de etanol em sua composição. Com a nova proposta, o intervalo passaria para 22% a 27%, com uma projeção de atingir até 35% nos próximos anos. A iniciativa faz parte do programa “Combustíveis do Futuro”, instituído em lei sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em outubro de 2024.
O programa visa reduzir as emissões de gases de efeito estufa, com uma meta ambiciosa: evitar 705 milhões de toneladas de CO2 até 2037. Ele também abrange atualizações em outros combustíveis, como biodiesel, gás natural e até o querosene de aviação.
Entretanto, a nova composição trará desafios. Rogério Gonçalves, diretor de combustíveis da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA), explicou que a mudança afeta tanto veículos flex quanto modelos movidos exclusivamente a gasolina.
“Para os motores flex, o consumo de combustível será maior, já que o poder calorífico do etanol é menor,” destacou Gonçalves, referindo-se à quantidade de energia gerada pela queima do combustível.
Nos carros a gasolina, especialmente nos mais antigos, a preocupação é maior. Segundo o especialista, veículos mais modernos já toleram proporções maiores de etanol, mas os antigos podem apresentar problemas como corrosão de borrachas e falhas nos sensores que monitoram a composição do combustível.
“Alguns carros antigos não estão preparados para um teor elevado de etanol. Isso pode causar desgaste em materiais e até falhas devido à intervenção dos sensores,” alertou.
Próximos passos
Com a entrega dos resultados dos testes e o estudo regulatório previsto para este ano, o governo dará continuidade ao planejamento para a implementação da nova gasolina no Brasil. A expectativa é que a iniciativa consolide o país como líder no uso de combustíveis renováveis, promovendo uma transição sustentável na matriz energética automotiva.